o dia em que fui abençoada pelo presidente da república e a aurea se riu para (ou de) mim

na semana passada, estive de férias na serra da estrela - o habitual. no domingo, fui com os meus primos à feira de são mateus ver a aurea. combinei com o meu primo que íamos comer rápido para irmos cedo para a plateia para ficarmos à frente. e conseguimos. entretanto, a minha prima foi ter connosco e os nossos pais continuaram a jantar. enquanto esperávamos, já a plateia estava meia preenchida, eles mandaram-nos uma fotografia com o marcelo rebelo de sousa. eu, que acho que ele devia ganhar o guiness de fofura (se não existe, passa a existir com ele!), pensei "oh, queria tanto ter estado com o marcelinho mas também quero tanto estar aqui". mas claro que não saí de onde estava, como é óbvio - primeira fila, senhores!!!

coisas que aconteceram no concerto da aurea:
  • apaixonei-me pelo baixista.
  • apaixonei-me pelo saxofonista - a quem, horas antes, tinha perguntado quando começava o concerto em vez de perguntar o número de telefone.
  • apaixonei-me pela voz da aurea - eu pensava que era só boa mas, afinal, é mais que muito boa.
  • a aurea desceu do palco, toquei-lhe na mão - estou a tentar perceber até hoje que creme ela usa porque aquilo é mais suave que as minhas pernas no minuto a seguir à depilação - e a pulseira dela arranhou-me - um privilégio, diria.
  • quando começou a tocar a i feel love inside, também conhecida como o meu jam, todo um ser vindo de marte se apoderou de mim e comecei a cantar com toda a alma e com o telemóvel a fazer de microfone (eu odeio filmar concertos, portanto, é este o uso que dou ao telemóvel) e a aurea viu e riu-se. melhor: há vídeo do momento (aos 0:22 do vídeo abaixo).

coisas que aconteceram depois do concerto da aurea:
  • comi uma fartura com açúcar em pó em vez de açúcar normal - melhor coisa da via láctea! 
  • encontrei o marcelinho.
sim!!! acabei mesmo por encontrar o marcelinho. é esta a definição de destino - duvido que ele se queira casar comigo e eu já estou ocupada com o saxofonista da aurea, ou com o baixista da aurea, ou com o adam levine, ou com os outros todos, portanto, é o destino de eu vir a ser presidente da república. ele estava cheio de gente à volta e, portanto, eu fui tirar uma selfie rápida com ele e disse-lhe "é tão fofinho!" e ele sorriu. e deu-me um beijinho na testa - é por isto que nunca mais vou tomar banho, qual fã dos tokio hotel.

uma margarida no meio de uma praia deserta

mesmo se tivesse aulas mais tarde, costumava ir cedo para a faculdade. o espaço da minha faculdade era provavelmente o que mais gostava no meio daquele pesadelo disfarçado de licenciatura e, portanto, tentava aproveitá-lo bem. numa dessas manhãs, enquanto ia a caminho, passei por um casa e ouvi um "bom dia!" vindo de uma voz doce. vi uma senhora idosa e retribui-lhe. ela começou a conversar comigo e, como ainda faltava um bom bocado para a hora da aula, ainda estive ali algum tempo com ela a falarmos sobre a vida, sobre o tempo e sobre nada - é o melhor tipo de conversa. a partir daí, tentava sempre passar por ali para ver se a senhora lá estava. havia vezes em que estava, outras em que não estava.

já tinha falado sobre esta senhora à minha mãe. no outro dia, precisei de ir à faculdade buscar uns papéis para a mudança de curso e passei por casa dela. estava à porta. "oh, minha linda!", disse ela, enquanto vinha em direção a mim, de braços abertos. abraçámo-nos. "esta é a minha mãe". apontei-lhe. ficamos as 3 ali a conversar - sobre a vida, sobre o tempo e sobre nada. quando a minha mãe disse que eu vou mudar de faculdade, a senhora, com mais 73 anos do que eu, começou a chorar e a dizer coisas bonitas sobre mim.

confesso que o meu coração ficou um bocadinho apertado ao vê-la assim e ainda ficou mais apertado com a felicidade dela por saber que eu ia para um curso relacionado com o que realmente quero: música. e a isto chama-se respeito: respeito da senhora pelas minhas escolhas e respeito meu porque não ignorei uma senhora com 93 anos que meteu conversa comigo às 8h da manhã. prometi-lhe que, apesar de não passar lá todos os dias, a ia continuar a visitar e ela sorrio. e, quando eu tiver 93 anos, com certeza lembrar-me-ei desta senhora que foi uma das (poucas) coisas boas que aquela faculdade me deu.

o ideal seria mesmo trabalhar na PETA e fazer música

nos primeiros dias de faculdade, disseram-nos que o ciclo de decorar a matéria e esquecê-la logo a seguir, que aconteciam no secundário, acabava ali e tínhamos de começar a pensar por nós. tanto pensei no que me ensinavam que decidi que vou mudar de curso. este curso era a minha 4ª opção mas, quando soube que era nele que tinha sido colocada, pensei que tudo acontece por uma razão e, na verdade, sempre adorei animais, portanto, achei que podia gostar. porém, nestes dois anos, não houve um só segundo em que pensei que era ali que pertencia - sentia-me estranha nas praxes (que eram boas e toda a gente se respeitava!), sentia-me aborrecida nas aulas, sentia-me agastada nos intervalos. tinha contacto com vacas, ovelhas e cavalos todas as semanas e adorava (apesar de ouvir pessoas a dizerem coisas parvas como "que bem que aquela vaca estava no meu prato!"... grrr!), mas depois estava nas aulas a ouvir falar sobre explorações de animais e matadouros e como tudo isso funcionava e tinha de escrever coisas com que não concordava nos testes ou chumbava.

no 1º semestre deste ano, decidi que ia estudar o máximo que pudesse para conseguir acabar o curso o mais rápido possível para depois focar-me só na música. passei dias e noites a estudar sem parar e passei a quase tudo, só faltou uma disciplina que chumbei com 9. à rasquinha. "ok, se calhar não pertenço mesmo aqui". decidi que ia mudar de curso porque nada fazia sentido ali. claro que não fiz esta decisão de ânimo leve - tenho receio que as coisas corram mal outra vez, os meus pais ficaram meio tristes porque sabem que adoro animais (mas gosto de animais livres e felizes, não confinados com data de abate definida) mas eles também me viram várias vezes a ir a chorar para a faculdade por saber que a seguir ia ter alguma aula sobre alguma coisa com que luto para que mude mas que, ali, tinha de aceitar e chegava a meio da tarde de segunda-feira e já estava psicologicamente exausta. ainda penso que estes dois anos aconteceram por uma razão: conheci algumas pessoas boas e como soube de muita coisa (absurda!) que acontece nas explorações de animais, deixei de comer carne e de beber leite. também percebi que em 2017 ainda há jovens que adoram tourada, que acham que a homossexualidade é uma aberração e que acreditam que os animais estão aqui para nós e não connosco.

o curso para que vou está relacionado com o que quero mesmo fazer para o resto da minha vida - música - com mais umas outras coisinhas a complementar, o que é muito bom! na faculdade em que andava, bastava-me estudar pelos powerpoints que os professores davam e, apesar de tudo, sentia-me muito na minha zona de conforto. aqui, vou ter de puxar muito pela criatividade e, portanto, vai ser um desafio e sei que vou ter muito trabalho (até porque quero começar a estudar e a trabalhar ao mesmo tempo, para além de estar a fazer música).. a minha felicidade e o meu medo estão exatamente ao mesmo nível mas, finalmente, sinto que o que estou a fazer é o correto e tudo está a acontecer no tempo perfeito.