espera por mim

30 de janeiro de 2018, 1h31

quando criei este blog, prometi que ia falar sobre coisas felizes. também prometi que ia ser sempre eu mesma, portanto, só poderia falar sobre coisas felizes quando estivesse feliz. tenho vindo a tentar colocar posts o maior número de vezes possível - e tenho conseguido. mas, ultimamente, desapareci. e desapareci porque, embora às vezes me esqueça, sou humana e não posso estar sempre feliz.

a verdade é que cada vez que alguém me diz que tenho de postar mais vídeos de músicas no youtube ou que tenho de começar a levar a música a sério, é como se levasse uma facada com uma espada grossa que me atravessasse de um lado ao outro do peito. mais do que querer, eu preciso muito de fazer música - muito. é o que mais quero na vida. mas sinto-me impedida.

quando criei o blog, também estava nos meus planos não me fazer de coitadinha. e não é o que estou a fazer. é a verdade. a minha casa é pequena. vivo com os meus pais e com o meu irmão e durmo na sala porque não há mais espaço para eu dormir. durmo na sala mesmo com a televisão dos meus vizinhos aos berros de madrugada, estudo na sala mesmo com os meus pais a quererem ver televisão, vivo na sala. também há sempre alguém em casa e, portanto, não me sinto à vontade o suficiente para estar a fazer música, que é uma coisa tão pessoal, tão minha. por isso, simplesmente não faço. talvez seja daqui que nascem as minhas inseguranças: nunca tive espaço suficiente para saber até onde consigo chegar e o que consigo fazer, musicalmente falando. nunca tive sequer um espaço pessoal para me conhecer e crescer comigo própria, para explorar quem sou.

a única coisa que tenho a certeza em mim é que quero fazer música. eu passo os dias a pensar em fazer música, tenho um bloco de notas cheio de letras minhas, tenho mais de 500 vídeos no telemóvel e para aí 90% deles são músicas minhas cantadas e tocadas baixinho para ninguém ouvir no resto da casa. não há outra coisa que eu queira mais fazer que não seja música.

mas não posso. e não são desculpas porque, se pudesse, deixava de comer e de dormir para estar agarrada à guitarra, ao teclado, a um papel amachucado e a uma caneta com a tinta a acabar. as ideias surgem-me no meio da rua, no banho, num restaurante cheio de gente mas, na hora de fazer música a sério, preciso de um lugar em que me sinta confortável e segura para poder desabar e falar de tudo o que quero e preciso falar. esse lugar é a minha casa. onde, por outro lado, não posso fazer música porque está sempre com alguém a ir e a vir, a entrar e a sair, e eu não tenho um espaço para mim, onde possa segredar comigo própria.

não vou estar a contar aqui ao certo o que se passa, como é óbvio. mas é algo tão estúpido, tão mesquinho, tão sem sentido. e eu já fiz o que podia e sinto-me impotente por nada ter mudado. não quero, muito menos preciso, ouvir todos os dias que não sei fazer nada e que não presto e que não vou conseguir. até ter o meu espaço, só posso ficar à espera. esforcei-me à séria durante todo o semestre da faculdade para poder ter férias durante janeiro e fevereiro inteiros, sem ter de ir a exames, para poder fazer música à vontade. consegui. mas tudo o que agora faço é passar o dia deitada na cama, na sala, a olhar para o teto porque não posso fazer "barulho".

na verdade, desde o início deste ano que tenho andado assim. o ano em que prometi para mim mesma que tudo ia mudar, o ano em que sentia que ia mesmo mudar. tenho andado desde o primeiro dia como se me estivessem a sufocar o corpo todo. está tudo ao contrário do que faz sentido estar. custa-me. muito. sinto que estou a atrasar e, sei lá, a ser expulsa da minha maior felicidade por causa de algo que não controlo. neste momento são 1h54. acordei tão cedo na manhã passada que estão quase a fazer 24h que estou acordada. mas, mais uma vez, não consigo dormir a pensar nisto. apetece-me berrar. mas não posso. já estou habituada a isso. quero tanto fazer música, tenho tanto para dizer quanto medo de, quando o puder dizer, já seja tarde demais.

e hoje também fiz um bolo e ficou como os testes que me faltam receber: muito mal.

já saíram as notas todas. oh, calma: todas menos as das disciplinas a que não tenho a certeza se passo ou se vou a recurso e que passo os dias todos a stressar se o meu cérebro decide pensar nisso, nem que só por um microsegundo: começa-me a subir o jantar de há 3 dias pela faringe acima, começo a ter suores frios, o hemisfério vidente da minha massa cinzenta (que, a esta hora, já deve ser preta do esturro) começa a prever-me rodeada de folhas até às 4h da manhã.

ontem à tarde estive a ver vídeos de burros fofinhos a serem resgatados pela animal aid com o meu pai e pensei no quão perfeito seria se o resto da minha vida fosse vivida numa autocaravana a fazer música e a dar concertos durante uma parte do ano e, nas férias, fosse para a índia ou para outro sítio qualquer fazer voluntariado com vacas, porcos, burros (burros!!! socorro! adoro burros!), ovelhas, cabras, coelhos, (...) zebras, elefantes, macacos, (...) golfinhos, peixes, baleias. depois, aos 35 anos, candidatava-me à presidência da república e proibia a venda e o consumo de carne em portugal.

vamos admitir que não é um sonho longínquo e que estou no caminho certo: já faço música, tenho mais de metade de uma licenciatura sobre animais feita e fui sempre votar desde os 18 anos, pelo que ainda me posso candidatar a presidente da república. pronto. era só isto que eu queria dizer. agora vou acabar de planear a minha viagem a fátima na sexta-feira. é o dia em que saem o resto das notas - pode ser que estar no santuário a essa hora sirva de alguma coisa.

update das 1h18: o meu professor de uma das disciplinas a que ainda não saíram as notas acabou de mandar um e-mail para a turma com o assunto "notas do teste". o meu coração começou a bater veloz e furiosamente. o que dizia o e-mail? "as notas saem amanhã". opá! eu não ando a pagar propinas para isto, amigo! quase fui desta para pior sem razão nenhuma!

um post sobre coisas que não interessam a ninguém #2

17 de janeiro de 2018

cheguei à bocado a casa e estes 14ºc em lisboa estão a parecer-me 41ºc. não pela temperatura em si (não mesmo, não é? 'tá louca!) mas pelo ambiente. está a fazer-me lembrar quando acabava os exames do secundário. até já arrumei todas as folhas deste semestre o que, se estivesse na tal altura dos exames do secundário, correspondia a agosto. só falta ter vontade ir para a praia. a única diferença é que morreria se, por acaso, decidisse ir agora. na verdade,  hoje de manhã, tive o meu último exame. enquanto não receber as notas para saber se tenho de ir a mais algum exame, não tenho de estudar. sinceramente, estou à espera que aqueles dois dias em que andei na catequese em criança e ter ido no outro dia à igreja ao pé de minha casa ver o presépio, me ajudem a ter passado a tudo e, portanto, a ter mais de um mês de férias.

porém, caso aconteça o contrário, ficar com o curso por fazer para sempre e a música também não ser um plano bem sucedido, já tenho alternativa - no outro dia, o meu avô veio cá a minha casa porque comprou um aparelho auditivo e, senhoras e senhores, estou no meu supremo direito de afirmar que: sou a rainha dos aparelhos auditivos. ensinei-o a usar o aparelho, ensinei a minha avó, ensinei o meu pai. no entanto, acho que alguém vai ter de ser o rei dos aparelhos visuais e ensinar-me a usar. no outro dia, estava a sair de um sítio que tinha uma porta transparente (mas com letras) e eu fui contra a porta transparente (mas com letras!!!!!). como aquilo estava cheio, olhei sorrateiramente à volta para ver se alguém tinha visto e... bem... obviamente que havia alguém a olhar para mim.
- ups... fui contra a porta! - disse eu, como se a pessoa não tivesse visto e, ainda melhor, para avisar toda a gente, porque o meu subconsciente acha que é um grande feito ter ido contra uma porta transparente (mas com letras). a pessoa riu-se e, entretanto, já tinha toda a gente a olhar para mim. claro que era exatamente isto que o meu subconsciente queria.

ainda assim, confesso que ainda não desisti de 2018: 2 dos pontos da minha to do list para 2018 estão a ser extraordinariamente bem sucedidos. este é o meu 8º post de janeiro, o que faz com que este seja o mês em que mais escrevi no blog. e ainda só vamos a meio. ainda vou colocar mais 2947927 posts (estou a falar a sério e literalmente... ou numericamente) só para deixar mesmo assente que ando mesmo a cumprir a minha promessa de escrever mais no blog. a outra promessa foi beber mais água. ando a beber 7 ou 8 copos de água por dia. são 17h41 e já bebi 5. a parte boa disto é que sinto que estou a assistir a uma batalha campal de borla na minha própria pele. sempre reparei que, quando bebo menos água, a minha pele parece o supervulcão de yellowstone nos dias bons e a cintura vulcânica transmexicana nos dias maus. quando aparece a água no recinto da batalha, os vulcões desaparecem e todas as bactérias presentes na minha pele morrem de solidão por pensarem que estão no deserto. ok, no deserto em dias ventosos, quando ficam buracos na areia. contudo, há um inimigo que a água não consegue combater: o meu herpes labial. o meu herpes tem o dom de aparecer quando eu penso "pronto, ok, não há muito problema em teres aparecido agora porque não vou sair em público assim tantas vezes". simpático. mas, no fim, acaba por ficar mais tempo do que o prazo de existência que lhe permiti. já o inscrevi na supernanny.

mas desta vez desculpo o meu herpes labial: ele só apareceu porque quis sentir o sismo (este) comigo. no lado mais poético da coisa, posso dizer que quis passar um momento especial comigo. eu estava sentada na mesa da sala a "estudar", que é como quem diz procrastinar, sentada, a ouvir something new do ty dolla sign e do wiz khalifa. senti o sismo duas vezes e, nessas duas vezes, senti-me a blaya a fazer twerk (ou seja, foi mesmo hardcore). no entanto, acho que não aproveitei o sismo na sua plenitude porque pensei que tivesse sido um efeito secundário da batida da própria música.

pode vir outro sismo, estou pronta. mas sem estragos, que só se sinta e pronto. quer dizer, se o sismo for de tal maneira que me transporte para nova iorque, eu aceito. se me mandar para o rio de janeiro, aceito e agradeço. aliás, se me mandar exatamente para um estúdio com o castello branco, seria perfeito. descobri-o há pouco tempo e. meu. deus. que giro. que sexy. que charme. estou a falar do aparelho vocal, obviamente.


aqui fica o álbum dele que saiu em 2017. está lindinho e fofinho. a minha música preferida é... ok, são todas... mas a coragem ligou-me a dizer que se quer casar comigo. no entanto, respondi-lhe que só aceito se a música de abertura do casamento for a parte do slow j na música do richie campbell (aqui a partir dos 2:29). não que tenha alguma coisa a ver com a nossa relação - que, aliás, foi sempre bastante segura, apesar das minhas escapadinhas para o álbum da camila cabello - mas porque comer um pastel de nata quentinho ou ouvir essa parte da música tem exatamente os mesmos efeitos químicos em mim e, se tiver passado a todas as disciplinas, vou assumir que é pelos imeeeeensos (dois ou três... é muito) dias em que fui à igreja e vou começar a ir rezar para que o slow j faça uma versão de 1h daquela formosura.

remédio santo?

todos os dias apetece-me comer broa com manteiga (e como), apetece-me beber mais de 8 copos de água por dia (e bebo), apetece-me passar o dia a ver vídeos de apanhados no youtube (e vejo) e apetece-me ouvir o álbum novo da camila cabello o dia todo (e oiço). apetece-me tudo menos estudar. só vou ter 1 exame, ou seja, podia aproveitar e estudar logo tudo para ter mais tempo livre mas a procrastinação tem sido o meu nome do meio. então, decidi ir fazer um raio-x e encontraram imagens inéditas e estranhas do meu cérebro neste momento. ei-las:



sim! isto são mesmo imagens reais do meu cérebro - obviamente que não é a minha gata a dormir como se fosse tudo dela, que ideia louca. o médico disse-me logo que me tinha de passar comprimidos para o nível exagerado e preocupante de procrastinação com que me apresento. disse-lhe que não gosto de tomar comprimidos. ele bem que me tentou explicar que a minha situação é mesmo grave, até que percebeu que a minha rejeição a comprimidos é um dos sintomas do estado avançado da procrastinação e, então, deu-me outra receita mais natural: agora, sempre que tenho um surto sério de procrastinação, tenho de olhar para estas fotografias (que, mais uma vez, obviamente que não é a minha gata):


escrevo poemas em dias de tempestade interior

outubro 2017, jardim do museu nacional do traje

13 de janeiro de 2018, 21h35
quem levou a luz
nem sabe que o fez
não sei se lhe fez jus
se a despiu de vez

quem levou a luz
há tanto que a tinha
não sei se lhe fez jus
mas sei que era minha

traga-me a luz
que volto a cantar
se lhe dança e seduz
talvez vá ficar

essa luz que chega
e acaba no céu
que dá sombra às estrelas
e agora ao que é meu

12 de janeiro e já tenho música para o resto do ano

preciso de me acalmar primeiro antes de falar... calma... 999999... 999998... 999997... (...) 2... 1... 0. ok. um bocadinho melhor. ACABOU DE SAIR O ÁLBUM DA CAMILA CABELLO!!!! e eu quero chorar. e quero sorrir ao mesmo tempo. porque isto é tão bom. e eu esperei tanto por isto. quando ela vier a portugal, vou comprar todos os bilhetes para ser a única no concerto!!! pronto... ok... provavelmente vou ter de esperar que alguma rádio faça passatempos para ganhar bilhetes como foi quando as fifth harmony e a ariana grande cá veio porque no money, no funny. espero que sobre pelo menos um bilhete para mim!!!

conheço as fifth harmony praticamente desde que elas se formaram e sigo-as desde o primeiro segundo em que as ouvi, tinha uns 16 anos. chegava da escola e ia sempre ver vídeos delas, via todas as entrevistas, todos os vines, sabia (quaaaase) tudo sobre todas! mas sempre tive mais atenção à camila. era a minha preferida, por todas as razões. no entanto, não queria que ela saísse das fifth harmony e, no dia em que isso aconteceu, a minha rua só não inundou das minhas lágrimas por um milagre! mas hey, o lado positivo: agora em vez de só 1 álbum para ouvir, tenho 2 - o das fifth harmony e o da camila. confesso que ainda não me habituei à ideia de que agora toda a gente sabe o nome dela! sinto-me como se um filho meu tivesse saído de casa para ir lanchar ao café e de repente aparece nos ecrãs gigantes da times square. 

a relação que tenho com as fifth harmony e com a camila é mais do que música. eu tinha (e ainda tenho um bocadinho) dificuldade em falar dos meus dramas com alguém e elas, mesmo não ouvindo, diziam coisas que encaixavam no momento. foi com elas que comecei a ganhar um pouco mais de confiança em mim. se não fossem elas, provavelmente ainda hoje a música não passava só de um sonho distante e não tinha posto as mãos na massa (ou no papel, na guitarra e no teclado, vá) para começar a tornar o sonho distante numa realidade próxima. é por isso que têm tanto valor na minha vida. quando soube que elas vinham a portugal, sabia que não ia conseguir comprar os bilhetes e, então, esperei por passatempos. mal a mega hits anunciou que ia abrir um passatempo, comecei a ouvir a toda a hora para conseguir ganhar. tentei várias vezes e nunca consegui. até ao dia em que decidi chegar à faculdade às 7h para ficar só a ouvir a rádio e, mal coloquei os fones, estava na hora do passatempo. achei que já era tarde demais mas participei na mesma. e ganhei!!!! logo depois, enquanto estava sentada na relva, o sistema de rega começou a funcionar e eu levei uma molha e até isso me deixou feliz! no dia do concerto delas, desatei a chorar como uma criança quando cheguei ao campo pequeno. na verdade, chorei até nas músicas mais mexidas. a camila passou a 10 metros de mim e só conseguia pensar em como ela não tinha a noção da importância que teve (e tem) na minha vida. 

às vezes, sinto que as pessoas acham estúpido alguém dizer que algum artista mudou a sua vida. não é estúpido, é real. os artistas existem (não só, mas também) para nos inspirarem. na realidade, tudo à nossa volta pode inspirar-nos e mudar a nossa vida: a simplicidade de uma flor, o poder de uma frase, o ritmo positivo de uma música. e eu sei que as fifth harmony e a camila vão sempre fazer parte da minha vida porque foram elas que, mesmo não sabendo da minha existência, deram-me bravura suficiente para começar a dar os meus passinhos na música. e eu sei que vou conseguir chegar onde quero porque elas também me ensinaram que a vontade aliada à paixão e à persistência levam-nos longe.

respirar: puxar o ar para dentro do corpo, para poder absorver oxigénio.

não me lembro da primeira vez em que descobri que as pessoas, os animais e tudo um dia se vai embora. quando era pequena, chorava quando a minha mãe me ia buscar a casa dos meus avós. no entanto, sabia que podia voltar no dia seguinte porque eles ainda estariam lá. pelo menos, eu tinha a certeza que estariam lá. porque nunca nada me tinha desaparecido de tal forma que não pudesse tocar mais. e, então, era óbvio que estariam lá porque não era possível algo desaparecer tão rápido.

ontem fui a casa dos meus avós para ensinar a minha avó a colocar o aparelho auditivo ao meu avô. "o que tinha de me acontecer...", disse o meu avô. hoje o meu avô veio cá a casa e disse o mesmo. não lhe digo nada mas a verdade é que não gosto que ele diga aquilo. a minha outra avó que já faleceu não sabia o meu nome, muito menos que eu era a sua neta. não tenho nenhuma memória com ela em que o alzheimer já não a definisse. os avós que ainda (ainda...) tenho sabem quem sou, sabem o meu nome, sabem que gosto de alho francês, que não gosto de queijo e que não como carne. estão bem. mas vejo-os cada vez a aperceberem-se mais do que acontece a todos: a morte. e oiço-os cada vez a falarem mais sobre isso. as dores nas costas, os ouvidos a zumbirem, o esquecimento de uma data importante começam-lhes a ser o sinónimo do final. não gosto que falem sobre isso. não para me esquecer que um dia acontecerá, mas dói-me ver a forma submissa com que falam sobre a morte e que um dia vou ter de passar por isso: quando for a vez dos outros, quando for a minha vez.

é estranho e quase estúpido pensar sobre a morte. é difícil entender a morte. qual matemática. às vezes, penso que gostava de viver sem nunca ter conhecido ninguém para não passar pela dor que é atravessar a morte dos outros. aliás, talvez o verdadeiro sofrimento venha antes de alguém morrer - quando as pessoas já não estão bem, quando não sabem o que as rodeia, quando demoram algum tempo a lembrarem-se do próprio nome. acho que é aí que começa o verdadeiro processo da morte e do fim de tudo. a morte é uma coisa natural que vai acontecer, devíamos nascer a saber lidar com ela. mas, tal como tudo, temos de aprender. um dia, vamos todos embora enquanto os pássaros continuam a cantar, a relva continua a crescer, a terra continua a rodar e o sol continua a brilhar. somos tão mais pequenos do que só pequeninos.

não faz sentido se for de outra forma


o meu auto-retrato error 404 not found
sem nenhum sangue fervilhar.
sem nenhum olhar brilhar.
sem nenhum suor escorrer.
sem nenhuma crença morrer.
sem nenhuma lágrima se soltar.
sem nenhum coração se enlaçar.
de amor. e de aperto - tem vezes.

não faz sentido se for de outra forma:
sem a ânsia partilhar uma casa com o medo.

mas corremos pelo deserto na mesma.
ah. e há. um oásis.

quem és tu se não isto?
e mais outras mil coisas.
mas isto. e um oásis à espera de ser encontrado.
eu sorrio. quero e vou.

um post sobre coisas que não interessam a ninguém

no outro dia, um rapaz da minha faculdade passou por mim e dissemos "bom dia" um ao outro. reparei que as meias dele também queriam dizer "bom dia" e, assim, disse "boa meia" - dizer "bom dia, meia" parecia demasiado estranho e, então, elogiei as meias para que elas percebessem que me estava a referir a elas mas sem ele achar muito estranho. deve ter achado estranho na mesma mas, no entanto, agradeceu. mais tarde, quando cheguei a casa, li em algum lado que a grande moda para 2018 são as meias a verem-se. quanto mais ridículas, melhor, dizem. desde esse dia que ando a bater com a cabeça nas paredes (não literalmente) porque cheguei à conclusão que devia ter optado pelo design de moda em vez da música. antes de toda a gente usar all stars, eu já usava (não eram all star mesmo porque sinto uma dor forte no peito só de pensar em dar mais de 20€ por uns sapatos mas o cerne da ideia, ou do estilo, estava lá). agora, as meias. sempre usei meias a verem-se. não que eu queira, consequências do swag próprio que a vida impinge em mim, que é como quem diz, visto um número de calças que me fica bem na cintura mas pequeno de altura. pode-se, então, concluir que quando alguém fala de "lançar tendências", está, certamente, a falar de mim. as tendências demoram um bocado a chegar porque, meus caros, é como dizem: devagar e bem, não há quem. esperem para ver se daqui a uns anos não anda tudo de sweatshirt e fato de treino todos os dias como eu. ando eu por aí nas ruas de lisboa a desfilar modelos gucci 2046 e ainda ninguém deu por isso. mas calma, eu abro mão para isto se os modelos gucci 2046 forem os modelos que vi desfilarem na praia de carcavelos na manhã do 1º dia do ano. normalmente, não reparo nem ligo muito ao que as pessoas têm vestido mas, senhores, aquilo era o auge do swag: fatos de banho com perna às riscas, perucas verdes, perucas de crista, camisolas a dizer o dia em que estamos (epá, às vezes dá jeito...).

com tanto estilo e inspiração à minha volta naquela manhã, cheguei a casa e tive de me empanturrar em sonhos (sonhos de comer - sonhos de vida já tenho que sobrem) que dariam para o resto do ano todo, se eu não os tivesse decidido comer todos no mesmo dia. na verdade, só o fiz para ver se consigo finalmente vestir um número acima de calças sem parecer uma cenoura dentro de um saco de batatas, obviamente. foi também por isto que comi sandes de batata frita ao almoço no outro dia - se isto não é o paraíso gastronómico, alguém que me leve lá. pizzas e o mc veggie não contam. maçã cozida com canela e limão, eu sei, é maravilhoso, mas também não conta. estou traumatizada. fiquei com dores de barriga de ficar a comer maçã cozida enquanto via todo o documentário do emicida. um dia destes devo voltar a comer outra vez (este é o verdadeiro significado de "o fruto proibido é o mais apetecido") mas, por enquanto, não falemos disso.

se eu tivesse o mesmo controlo para comer maçãs cozidas como tenho para não desmaiar, seria maravilhoso. o cirurgião que me vai tirar os sisos um dia destes pediu para eu ir fazer um tac. "não te preocupes, é fácil". sim. dormir pouco na noite anterior, ir para o hospital logo de manhãzinha, em jejum, deitarem-me quase com a cabeça ao contrário numa máquina estranha que começa a rodar como se estivesse numa máquina de lavar roupa foi a coisa mais fácil que já fiz na minha vida. obrigar-me a pensar em carneirinhos fofinhos a saltarem por cima de grades para fugirem de explorações para ver se não desmaiava também foi muito fácil. aliás, ter liberdade para comer uma delícia de amêndoa e um bolo qualquer de côco quando estava quase a ter um piripaque depois da facilidade de quase desfalecer a meio de um exame em que não me podia mexer, foi a parte mais difícil. a senhora que me fez o tac pensou que eu tinha 14 anos. isso também foi difícil. é difícil pensar que, caso aos 21 anos pretenda começar a ir a discotecas, vão-me pedir o cartão de cidadão à entrada e, pior, vão-me mandar embora na mesma por pensarem que é falso. mas há quem esteja em pior situação que eu: há pessoas que ainda colocam boomerangs no instagram com a comida a entrar e a sair da boca. o meu ritual ao ver este tipo de boomerangs é: sair o mais rápido possível do instagram, bloquear o telemóvel o tempo suficiente para ter a certeza que não volto a ver aquilo, repensar se preciso mesmo de ter instagram para os meus momentos de pausa, chegar à conclusão que não mas, mesmo assim, continuo.

e é por este tipo de escolhas que faço na minha vida que, há dias (também conhecidos por "todos os dias") em que também penso que tenho 14 anos. ou 10. ou 7. por aí. eu desculpo-me no meu signo: é comum ver-se nos sites duvidosos de astrologia que sagitarianos têm síndrome de peter pan. à vista disto: tenho oficialmente desculpa. posso, então, entusiasmar-me mais do que é considerado dentro da norma com a música nova dos hmb em que eles parecem as tartarugas ninja (com meias a verem-se, lá está) no videoclip. e também posso entusiasmar-me de tal modo por ter comprado uma das minhas plantas preferidas que começo a sorrir e a falar com a planta no meio do supermercado. estou a tornar-me mesmo numa daquelas tias com a casa cheia de gatos e plantas. até dei nome à plantinha. chama-se carmen. carmencita para os amigos. digam olá à carmencita!

 

tenho de ir ao louvre para ter inspirações poéticas e profundas com a mona lisa

ontem foi o último dia em que fui à faculdade antes do exame que vou ter lá para o meio de janeiro. na verdade, ainda teria aulas até ao fim da semana mas hoje o meu turno não teve aulas, amanhã vou ao médico e, portanto, não vou mais. ontem fui à faculdade ter a apresentação de um trabalho (tive 18! festa!) e fazer um trabalho de grupo. cheguei cedo demais e, então, aproveitei para ir ver uma exposição que, com a correria do dia-a-dia, nunca parei para ver bem. quando estava a ler os textos que acompanhavam a exposição, parei numa frase que dizia:

no decurso do processo vamos inventando o seu próprio sentido.

não estava ninguém à minha volta e aproveitei o momento para o dividir comigo com um sorriso meu que consegui observar no reflexo do quadro que suportava o texto. acho que é isto que tem acontecido. as coisas têm-se construído por elas próprias e cada momento é o momento em que têm de acontecer: nem antes, nem depois. tenho alguma dificuldade em acreditar num deus mas acredito mesmo em energias e em forças do universo. acredito que cada um de nós está exatamente no sítio em que deve estar, a passar por aquilo por que deve passar e, mais importante, rodeado de quem deve estar. claro que somos nós que decidimos o nosso caminho e que nos temos de esforçar para que as coisas que queremos que aconteçam, aconteçam realmente. mas o momento que estamos a viver agora, a forma como nos sentimos agora, as energias que recebemos agora, são o que vai ditar o nosso passo seguinte. se nos sentimos bem, continuamos. se nos sentimos mal, não nos podemos acomodar na compaixão que podemos ter por nós próprios nem no medo de dar um passo errado. a vida é muito certa por ela própria se conseguirmos aceitar e compreender as energias à nossa volta. é assim que vamos inventando e construindo o sentido do processo tão bonito e desafiante que é a vida.