é o que dá quando o universo conspira para que me case com o adam levine

há uns tempos, comecei a ver um documentário sobre a existência de extraterrestres infiltrados no planeta terra. perguntei-me se eu própria não seria um deles - infelizmente, não sou. mas há vezes em que me sinto como se fosse, principalmente devido às normas impostas pela sociedade ou pelo que algumas pessoas à minha volta dizem ou como me fazem sentir. pelos vistos, é estranho ter 20 anos e estar mais importada em fazer o melhor que conseguir para ter uma carreira estável na música do que em investir o meu tempo em arranjar um namorado. muitas vezes oiço a minha mãe a dizer "ela tem é de arranjar um namorado" ou outro alguém também a dizer alguma coisa relacionada com isso - não diria todos os dias, mas todas as semanas isso acontece.

eu sinto-me estranha e, às vezes, chego a sentir-me mal com isso. talvez não seja mesmo normal, talvez o problema seja mesmo meu que estou a ver a vida ao contrário. claro que já me apaixonei - ou senti o que achei ser uma paixão. já estive apaixonada por uma pessoa que também sentia o mesmo por mim ao mesmo tempo - estranho esta coisa de duas pessoas estarem apaixonadas ao mesmo tempo uma pela outra num mundo de 7 mil milhões de pessoas. quando tinha uns 11 anos, tive um namoro que durou uma semana porque ele dizia que eu não mostrava interesse. desde aí que fujo de namoros e de coisas sérias. ou porque a pessoa é um bocado arrogante e eu prefiro pessoas mais amorosas. ou porque a pessoa é demasiado amorosa e eu prefiro pessoas um bocadinho mais frias. ou porque a pessoa é fria e eu prefiro pessoas mais sentimentais.

o amor é muito bonito mas, já diziam os da weasel, o amor é uma loucura. e é uma loucura porque amor é sinónimo de darmos grande parte de nós ao outro: o tempo e a alma. creio que os dias completos que demoro só a responder a uma mensagem ou as semanas em que desapareço sem dizer nada a ninguém não combinam com o que é uma relação amorosa. e também creio que ter uma capa cinzenta a cobrir-me a alma também não.

há muitos tipos de amor - amor de família, de amigos e, principalmente, amor próprio. felizmente, tenho todos eles mas ainda estou a construir melhor este último e as pessoas já me estão a dizer "quando arranjares um namorado, não queres outra coisa". talvez seja verdade mas, por enquanto, não está nos meus planos e acho que é essa parte que as pessoas não percebem ou, se percebem, desconfiam. eu ainda não sei quem sou e é injusto dar-me a uma pessoa - tanto para mim porque não sei se estou a ser sincera comigo, como para a outra pessoa que pode pensar que sou uma pessoa que não sou. preciso de tempo para perceber quem sou e só assim é possível ter outra pessoa, mesmo que essa pessoa seja um bocado arrogante, mais amorosa, fria ou mais sentimental. se eu tivesse agora uma relação, ia acabar por ser um fardo de tijolos, calhaus e aço para mim e não é nisso que o amor se baseia.

tenho passado os dias a compôr músicas e é aqui que, por agora, encontro-me comigo mesma. há músicas sobre pessoas com quem tive alguma história e é bonito que assim seja. aliás, eu não estou a tentar dispensar da minha vida o amor que origina uma relação amorosa. mas, por enquanto, não quero. se calhar, daqui a um mês vou querer. se calhar, só daqui a trinta anos vou querer. e tanto faz. eu não fico triste por isso desde que esteja a fazer algo que goste muito. tenho família, tenho amigos, tenho música. não sinto que uma relação amorosa me faça falta agora. e estou bem assim.

dos livros "anita", surge agora: luisinha vai ao café e quase desfalece

acontece que na quinta-feira combinei com uma amiga irmos lanchar a um café em campo de ourique chamado Friendly Flamingo. já estávamos para lá ir há montes de tempo e o dia chegou. já tinha lá passado à porta algumas vezes e já tinha visto algumas fotografias do espaço portanto, quando lá entrei, a única coisa que me surpreendeu foi a energia do sítio - é mesmo tranquilo e é tão bom para lá estar só a estudar ou a trabalhar, a descansar ou *wink wink* fazer uma sessão fotográfica.


quando lá entramos, fomos à bancada ver o que havia para comer. olhei para o lado e estavam lá o héber marques e o filipe gonçalves. sim. o héber marques. o héber marques que eu adoro a um nível não muito normal e que disse há uns posts atrás que um dia ia fazer uma música com ele. eu sinto que a minha cara no momento denunciou tudo aquilo que eu sentia por dentro mas, felizmente, ele não estava a olhar. fingi ser uma pessoa normal e não saber todas as músicas dele de cor e consegui fazer o meu pedido. decidimos que íamos dividir o lanche para provarmos duas coisas e optamos por um waffle com xarope de ácer e um bolo de chocolate e ela bebeu um cappuccino e eu chá de hortelã.


demorei mil anos a comer porque assim é o meu ser natural - que ainda piora quando estou no mesmo espaço que o héber e o filipe. mas a comida era super boa. eu não gosto muito de xarope de ácer mas aquele waffle estava demais e comi sem dificuldade nenhuma. e o mesmo digo do bolo de chocolate - até comprei outra fatia para trazer para casa. quando acabamos de comer, o meu pai ligou-me a dizer que nos podia ir buscar porque ficava a caminho. enquanto esperávamos, tirámos fotografias. entretanto, o héber passou para sair do café, eu sorri e ele disse "olá!". a minha amiga disse que ele parou durante um bocado, provavelmente a pensar que eu iria pedir para tirar uma fotografia. não é que não quisesse, mas o problema é que eu estava aos gritos por dentro, nem sabia o meu próprio nome, muito menos como pedir uma fotografia. quando o meu pai chegou e saímos do café, o héber também estava a ir embora e eu apontei para o meu pai e disse-lhe "olha, é teu fã!" (na verdade, eu queria dizer "olha, é teu sogro!" mas... ainda não aceitei o pedido de casamento que ele me fez no outro dia... quando eu estava a dormir e... a sonhar com isso...). o héber começou a andar mais rápido e acenou ao meu pai. o meu pai acenou de volta e disse-lhe "ela tem uma pancada!". o héber riu-se. eu também me ri (o chamado risinho nervoso). despedimo-nos. e fugi para ele não ter tempo de decorar a cara da moça que "tem uma pancada" para que essa não seja mais uma razão para ele recusar fazer uma música comigo no futuro (próximo. espero).

larguei o adam levine. vou-me casar com um carteiro. o único requisito é chamar-se adam levine.

ando a recolher assinaturas para encaminhar um documento para o sindicato dos carteiros. o meu plano é passarmos a receber encomendas apenas a partir das 14h, quem sabe, 15h. e, se os carteiros fizerem mesmo questão de entregar as encomendas de manhã, são obrigados a trazerem pequeno-almoço. esta ideia surgiu-me porque sou sempre eu a receber as encomendas cá em casa. e o problema é que é sempre de manhã - tão de manhã que, na maioria das vezes, o som da campainha é o meu despertador. quando os meus pais ou meu irmão me dizem "amanhã deve chegar uma encomenda", eu começo logo a fazer planos de como agir. acordar já é difícil. acordar e ter imediatamente de ter interação humana quando nem do meu nome me lembro e ter de assinar papéis quando os meus olhos ainda têm aquilo a que eu chamo película de sono a tapar-me a visão para receber uma encomenda, é muito mais difícil do que pensar no que vou comer ao pequeno-almoço - daí a minha ideia dos carteiros trazerem já o nosso pequeno-almoço.

tinha uns 15 anos quando recebi a minha primeira encomenda - receber uma encomenda não é uma data para ser relembrada, só decorei a idade porque foi quando recebi a minha primeira guitarra. correu tudo bem, dentro dos possíveis que a minha ansiedade social permite. a partir daí, foi sempre a descambar. as últimas duas encomendas que recebi foram recebidas demasiado cedo e, como tal, correram pior do que o habitual. numa delas, o carteiro tinha uma caixa nos braços e, quando ia para me dar, perguntou:
- posso?
- pode! - respondi, na minha inocência, ao pensar que a caixa, apesar de enorme, parecia leve.
quando ele colocou a caixa nos meus braços, só tive tempo de me virar para trás e cair em cima do tapete com a caixa que, agora, mais parecia ter um javali dentro. exclamei qualquer coisa que não me lembro.
- pois, é um bocadinho pesada... - exclamou o carteiro, provavelmente ao perceber que eu estava em apuros.
- é... só "um bocadinho"... - pensei.

na última vez que recebi uma encomenda, acordei para ir abrir a porta e ainda tive de andar à procura da camisola do pijama à pressão para não receber o carteiro em tronco nu - o que, penso eu, para ele seria normal porque uma vez vi no você na tv uma reportagem sobre carteiros e diziam que há imensas pessoas que os atendem completamente nuas. bem, eu acho que o meu ar de zombie ao acordar já é suficientemente assustador. para piorar a situação, como vivo no 1º andar, o carteiro chega num instante. mas, nesse instante, consegui encontrar a camisola - cada vez que quiser encontrar alguma coisa, vou chamar um carteiro. abri a porta.
- bom dia! - disse o carteiro. homem simpático.
- bom dia! acabei de acordar... - estava a tentar-me desculpar pelo meu estado físico lastimável, que, por acaso, era mais que óbvio e ele já devia ter reparado ainda nem eu tinha aberto a porta.
- se estivesse em casa, também estava a dormir agora! - respondeu.
- e eu queria tanto que estivesse em casa a dormir para não estarmos agora nesta situação embaraçosa - pensei. mas limitei-me a sorrir. pelo menos, ainda não tinha comido e não corria o risco de ter um bocado de pão no meio dos dentes.
entretanto recebi a encomenda e ele pediu-me para assinar numa daquelas máquinas do demónio. eu, que tenho uma letra de criança bastante percetível, tinha acabado de assinar com letra de médico. pensei que, finalmente, a puberdade tinha atingido a minha letra. tentei não ser tão positiva e apercebi-me da borrada que estava a fazer.
- hmm... isto está a correr mal. não dá para assinar outra vez? - perguntei.
- pois... não dá... assina aí qualquer coisa! - entreguei-lhe a máquina. - qual é o teu nome?
- ana luísa.
quando nos despedimos e fechei a porta, lembrei-me que não tinha dito o meu apelido.
- oh meu deus! vai acabar por voltar para me perguntar o apelido... - pensei.

mas não voltou. teve de me ver descabelada, com um pijama velho, os olhos cobertos de remelas e com voz de bagaço matinal nas primeiras horas do dia. se voltasse, já tinha um aro de cebola como aliança à espera dele e eu estava pronta para nos casarmos. aliás, ter logo um primeiro encontro nestas condições e ainda voltar, é sinal que vamos ter um casamento duradouro. pensando bem, vou largar a ideia das assinaturas e vou começar a fazer encomendas inúteis só para receber carteiros todos os dias a ver se algum deles escorrega na minha desgraça matutina.

se todos fossemos cinzentos, o mundo só tinha uma nota musical

há dias em que não nos sentimos bem connosco próprios - e, apesar de ser algo normal, não é algo que temos de aceitar. não sabemos se era nesse mesmo dia em que íamos compor uma música candidata a um grammy, escrever um texto que iria sensibilizar o mundo de tal forma que o mudaria, fazer um desenho com caraterísticas 3d ou descobrir uma receita que faria com que as pessoas que comem carne deixassem de o fazer.

um dos meus empecilhos é a falta de confiança - pesa, aperta e oprime-me. houve alturas em que me perguntei se estaria certa em não usar maquilhagem, não saber andar de saltos altos, andar sempre de ténis, não gostar de pintar as unhas, usar camisolas sobre aliens e passar vários dias seguidos - que acabavam por se tornar em semanas - fechada em casa a aprender música, quando não era isso que eu via quando saía à rua. estou mais que certa que música é o que quero fazer para sempre - e se houver um piano e uma guitarra no céu, mesmo depois de morrer, eu continuo. há dias em que acordo com mais inspiração do que sangue nas veias mas, no fim, tenho sempre vergonha de mostrar a música que fiz a alguém. no fundo, tenho medo de não estar de acordo com o que é suposto.

na quarta-feira, tive aula de música e o meu professor teve uma conversa sincera comigo sobre esta vergonha, falta de confiança e receio. vai sempre haver quem goste e quem não goste. mas tudo está certo desde que sejamos fiéis a nós próprios e façamos o que gostamos sem desrespeitarmos ninguém. passei o resto do dia a pensar nisso e só adormeci lá para as 5h da manhã. por ser um peso que carrego todos os dias, aquela conversa foi como um abanão que fez com que metade do fardo caísse.

emicida feat. rael - levanta e anda

antes de adormecer, tive sede e fui beber água. parei em frente ao espelho e continuei a pensar naquela conversa enquanto olhava para mim. ali estava eu. eu: que digo sempre às pessoas para acreditarem nelas próprias mas nem sequer acredito em mim; para se expressarem da maneira que se acharem mais livres mas sou a primeira a esconder-me atrás da insegurança que me persegue. combinei comigo mesma que, dali em diante, iria ser quem quero ser. elogiei-me e fui dormir. ontem acordei, tomei o pequeno-almoço, arrumei a casa e fui fazer música. a mais sincera que eu conseguisse, sem medos de quem a vai ouvir e do que vai achar. instalei uma aplicação no telemóvel para aquecimento vocal e outros exercícios para melhorarem a voz e vou fazê-los todos os dias.

 e vai ser sempre assim daqui para a frente. vou defender as coisas que gosto e não ter medo de ser quem sou. nos dias em que não estou tão bem, vou levantar-me e fazer o que tenho de fazer à mesma. se é sem maquilhagem, de unhas nuas, com camisolas sobre aliens e de ténis sujos que me sinto bem, é desta forma que vou continuar - pelo menos até ao dia em que decidir fazer o contrário e preferir assim.

como o meu cérebro decide proceder quando isto acontece: wnvnejwpknjdfoejwnw

não fujo de aranhas, não choro com palhaços, aguento-me firme com o escuro e ando frequentemente em elevadores. mas há duas fobias que eu tenho e que acho que nem com sessões diárias e intensivas de hipnose passariam: uma delas é tripofobia e a outra que acho que não tem nome e, portanto, aqui o crio.

pergunta·e·foge·fobia
(pergunta- + -e- + -foge- + -fobia)
substantivo feminino
medo patológico ou aversão de quando alguém passa, pergunta "tudo bem?" e continua a andar.

sim, estou a falar mesmo a sério. tremo, soo e o meu sistema lacrimal começa a pensar em funcionar severamente quando pressinto uma situação deste género a aproximar-se. isto acontece principalmente porque, quando alguém me pergunta se está tudo bem e continua a andar, não há tempo para a resposta e acabo sempre só eu a responder "sim", sem conseguir retribuir a pergunta e, às vezes, quando a pessoa não está assim tão apressada, parece que eu não quero saber se a pessoa está bem ou não. na verdade, nem a pessoa deve querer saber porque, se quisesse, parava para perguntar em vez de continuar a andar. aliás, eu nunca li o código civil mas aposto que está lá escrito que só podemos responder que sim mesmo que o nosso prédio tenha caído durante a madrugada quando estávamos a sonhar com umas férias em galesnjak com o adam levine e só demos por isso quando acordámos de manhã na rua agarrados ao nosso habitual urso de peluche, rodeados de vizinhos e bombeiros a olharem para nós.

já tentei perguntar "tudo bem?" ao mesmo tempo que a pessoa para ver se a situação se tornava menos estranha, mas o pânico criado pela própria fobia fez com que eu tivesse a (des)habilidade de perguntar e responder ao mesmo tempo - o que ficou ainda mais estranho. também já tentei responder "sim, e tu?" mas, caso a pessoa ainda fosse a tempo de ouvir, ou não ia responder por já estar demasiado longe entretanto ou respondia e, finalmente, alguém perceberia a tolice que é toda esta circunstância, por acabar a responder para o vento ouvir.

portanto, se não for muita prepotência junta, gostaria de fazer um pedido mundial: quando for para perguntarmos a alguém se está bem, por favor, paremos para ouvir o que a pessoa tem para dizer. claro que fica bonito perguntarmos a alguém se está bem. mas fica ainda mais bonito se o fizermos porque queremos mesmo saber e, portanto, paramos para ouvir. caso estejamos com muita pressa ou não quisermos mesmo saber, não há mal nenhum em dizermos só "olá" ou sorrir. e assim estaremos a salvar o mundo de mais uma fobia.