tenho uma (in)certa dificuldade em perceber que estou mesmo viva, que as coisas estão a acontecer à minha volta e no mundo e que a vida é uma coisa que existe mesmo. ao contrário do que normalmente oiço dizer em relação às outras pessoas, para mim, a música faz a ponte entre esta fuga da realidade constante em que, inconscientemente, vivo diariamente (e horamente e minutamente e segundamente) e a realidade do mundo. puxa-me para terra e faz-me perceber o que é suposto sentir. quis o universo que eu nascesse com uma vontade obsessiva de viver de e para a música e pôs-me a querer fazê-la profissão. não sei porquê, não sei os propósitos, não há nada de poético na situação: é a coisa que mais gosto na vida e quero. e porque não me vejo a fazer mais nada com o mesmo entusiasmo, pronto.
há uns tempos, comecei a (tentar) fazer música mais a sério. sentava-me com o piano e com a guitarra e fazia. não pensava no que ia fazer - fazia, só isso, de improviso. com isto, tenho um monte de músicas escritas num caderno e só sinto uma delas como sendo minha (a última que fiz, em março do ano passado). no entanto, com a pressa de querer fazer parte deste mundo, lancei uma música - esta. não me arrependo mas, é a tal coisa, nunca a senti como sendo minha. talvez tenha sido por isto que, ao saberem que esta música não era a minha coisa preferida no mundo, por muito que me dissessem que ela tinha o seu encanto, eu nunca achei o mesmo por um segundo que fosse.
foi então que decidi que precisava de um tempo para perceber como funciono. se calhar, sentar-me e escrever sem pensar previamente faz com que escreva o que está nos vários universos do meu cérebro mas não é isso que quero passar para fora (por enquanto, talvez um dia queira). entretanto, pensei várias vezes que, se calhar, o mundo da música não foi feito para mim mas, por outro lado, vinham-me ideias de músicas à cabeça constantemente. mas lá está: acho sempre que tudo o que faço é uma porcaria e acabava por pôr todas as ideias de parte. então, isto tornou-se numa bola de neve e acabei a fazer uma pausa gigante onde, mais recentemente, percebi que me estava a distanciar de mim, dos outros e de tudo porque passava os dias deitada na cama, nas redes sociais ou a jogar ludo club e chegava à noite com mais um dia desperdiçado e pensava "não, amanhã é que vai ser produtivo". e não era. e não era porque eu não me sentia suficiente para nada e não parava para pensar no que queria realmente fazer.
foto de ontem da minha gata a ser linda só para isto não parecer assim tão sério. |
foi então que decidi que precisava de um tempo para perceber como funciono. se calhar, sentar-me e escrever sem pensar previamente faz com que escreva o que está nos vários universos do meu cérebro mas não é isso que quero passar para fora (por enquanto, talvez um dia queira). entretanto, pensei várias vezes que, se calhar, o mundo da música não foi feito para mim mas, por outro lado, vinham-me ideias de músicas à cabeça constantemente. mas lá está: acho sempre que tudo o que faço é uma porcaria e acabava por pôr todas as ideias de parte. então, isto tornou-se numa bola de neve e acabei a fazer uma pausa gigante onde, mais recentemente, percebi que me estava a distanciar de mim, dos outros e de tudo porque passava os dias deitada na cama, nas redes sociais ou a jogar ludo club e chegava à noite com mais um dia desperdiçado e pensava "não, amanhã é que vai ser produtivo". e não era. e não era porque eu não me sentia suficiente para nada e não parava para pensar no que queria realmente fazer.
aí estava o problema: o meu cerne não gira em torno dos mundos para que nos puxam hoje em dia. sinto-me completamente eu estando no meio da natureza, das estrelas, das histórias, das músicas. não fui feita para perder tempo com coisas que os bebés não saibam também apreciar (é uma comparação estranha mas, no fundo, é verdade). decidi, então, aproveitar os efeitos da lua cheia e, na semana passada, houve um dia em que acordei, fiz o que tinha a fazer, abri a janela do quarto e comecei a compôr. e porra, eu já não me sentia assim tão bem há muito tempo. é destas estrelas que sou feita! o meu objetivo agora é deixar todas as minhas inseguranças para trás e fazer o que quero fazer como quero fazer. eu não vou escrever sobre estar a chorar por amor quando, na verdade, se alguém me parte o coração, a minha reação é fazer piadas sobre isso. eu não vou escrever sobre sentir-me terrivelmente mal emocionalmente quando, na verdade, eu sou a primeira a fazer-me sentir uma rainha a toda a hora. por vezes, ponho-me na voz de artistas que adoro e, ao pensar "ok, vou fingir que sou eu que escrevi isto", passo a odiar só porque penso que fui eu que fiz e, se fui eu que fiz, torna-se automaticamente numa coisa que não presta. e não posso permitir que seja assim porque senão nunca faço nada. e pronto. era só isto. ep ou álbum completo no fim do verão. fica aqui dito.