héber marques, podes começar a preparar-te para umas quantas músicas em conjunto


tal como agora, há 1 ano estava de férias. tinha passado os 9 meses anteriores a dividir o meu tempo entre estudar coisas que não gostava e a reclamar por isso mesmo. como não sabia qual a melhor alternativa, o mais certo era no ano seguinte continuar na mesma situação porque a probabilidade de ganhar o euromilhões também era baixa - até porque não jogo. passei o verão a tentar fazer música e não passava disso: tentar. acabava sempre por deixar de lado porque achava que não tinha jeito nenhum e porque, mesmo que tivesse, não via a possibilidade de um dia vir a ter alguma felicidade com ela. andava por aí sem saber o que fazer. 

em setembro, lá voltei eu à mesma rotina de estudar coisas que não gostava e reclamar por isso. no entanto, entrei numa escola de música para ver se ficava com o espírito um bocadinho mais alegre. já sabia que estava lá gente que sabia muito de música - o que me assustava muito - e tinha medo de perceber que não tinha mesmo jeito. mas fui à mesma. o meu primeiro mês de aulas foi todo teórico e, no fim, o meu professor pediu-me para lhe mostrar o vídeo que eu já lhe tinha dito que tinha no youtube. mostrei - a medo. no fim, o que ele disse surpreendeu-me. já me tinham dito "cantas bem" mas, daquela vez, a frase soou-me melhor - foi estranho mas bom ter alguém que é músico de profissão a dizer que, afinal, até tenho jeito. à medida que o tempo passava, cada vez conhecia mais pessoas na escola de música e apoiavam-me. 

no verão passado, mal eu sabia que dali a uns meses iria estar a tocar num dos bares lisboetas em que os amor electro e outras maravilhas do género já tocaram, com uma banda que percebeu exatamente o que eu queria, com uma música trabalhada por mim, com montes de gente à minha frente e sem ter nenhum ataque de pânico. claro que podia ter feito melhor - pode-se sempre - mas, para primeira vez, fiquei feliz o suficiente para perceber que, sem dúvida, era aquilo que eu queria fazer para o resto da minha vida e depois disso, se for possível. sei lá. há qualquer coisa que acontece quando estou naquela situação. não posso dizer que tudo à volta parece desaparecer porque não acontece. não posso dizer que me sinto a rainha do mundo porque também não acontece. mas há alguma coisa, que eu não consigo perceber, que acontece - e espero nunca conseguir perceber porque é uma das coisas que dá magia ao momento.

no verão passado, também não imaginava que dali a uns meses já haveriam pessoas a quererem fazer música e até um álbum comigo. de repente, tudo o que parecia longe da minha realidade estava a acontecer. e está a acontecer. e eu estou a trabalhar para que tudo o que eu quero aconteça. já tive a oportunidade de fazer um álbum com as letras e as músicas já pré-feitas - ou seja, era só gravar e não ter muito trabalho. mas eu não aceitei. prefiro, nesta primeira fase, fazer por mim - faço a experiência e depois logo se vê. tenho andado a fazer música sozinha, a escrever muito, a encher o telemóvel de notas e vídeos para não me esquecer das melodias que me surgem subitamente. quase todos os dias acontece-me o mesmo que no verão passado - querer desistir por não me sentir suficiente - mas agora, quando me sinto assim, em vez de largar o que estava a fazer, escrevo uma música sobre isso. também aproveito os concertos a que vou para ver como os músicos se comportam em palco e tenho ouvido muita música nova de diversos géneros para tentar tirar algum som novo. resumindo: tenho trabalhado muito, tenho sempre tentado fazer uma música melhor que a anterior e melhorar a cada dia que passa. é preciso muito trabalho, esforço e dedicação? é. mas eu tenho a certeza que no fim tudo vai valer a pena.

o que somos nós?

fotografia tirada à tarde que uma amiga minha que está perto de pedrógão grande me enviou.

- mas onde está deus? - é o que mais diz a minha mãe, perante o fogo que está a apoderar-se de pedrogão grande.
- provavelmente, a comer um gelado. - respondo.
sempre tive dificuldades em acreditar em deus. quando era pequena, os meus pais inscreveram-me na catequese mas eu fui duas vezes e nunca mais lá voltei porque, para além de achar aquilo uma seca, não fazia muito sentido. entretanto, entrei no coro da igreja mas era só para cantar e não por deus. pouco mais tarde, não me deixaram mais ir porque quem não tinha a catequese, não podia estar no coro. um dia, a minha mãe, vestida de preocupação, foi falar com o padre porque era estranho eu não dar importância à igreja - como se, por isso, a minha vida tivesse de ser um caminho escuro em que o chão era revestido de espinhos e pedras bicudas e eu andasse descalça.
- não se preocupe com isso, não a obrigue a nada. - respondeu-lhe o padre.
agradeci-lhe telepaticamente.

às vezes, brinco com a minha mãe por causa disso - ela tão crente, eu tão hesitante nessa crença. mas cada vez mais a oiço a dizer "onde está deus?". talvez deus exista, talvez não. mas, se existe, não está a ajudar muito - desde ataques no meio da rua em londres a lançamentos de mísseis em bairros de gente inocente na síria. horas antes de um homem rebentar uma bomba no concerto da ariana grande em manchester, a mega hits tinha-me oferecido bilhetes para ir vê-la ao meo arena (aqui) dias depois. tremi quando soube da notícia porque podia ter sido em portugal. podia ter sido eu a levar com uma bomba. agora, que pedrogão grande e mais uns quantos municípios estão a arder e, com o fogo, vão também famílias inteiras, custa-me cada vez mais acreditar num deus que nos protege a todos. para ajudar, chove à volta dos locais com fogo mas não no sítio que era suposto, um avião da água despenhou-se e um dos casais (e respetivos filhos) que estavam desaparecidos e foi encontrado morto era amigo da minha família. e eu voltei a tremer tanto ou mais do que na situação em manchester.

saíram de casa para fugir do fogo. no fim, eles morreram e a casa continua intacta - com a mesa posta para jantar, como eles a deixaram. e eu estou aqui há horas a pensar nisto - como há tão pouco tempo ele e a minha mãe estiveram a falar ao telefone e como agora ele já não está cá. mas estou a pensar, o que significa que estou viva. não sei se ainda vou ter esta oportunidade hoje à noite, amanhã ou daqui a uma semana. mas agora estou e quero aproveitá-la da melhor maneira - a fazer o que mais gosto, a celebrar as coisas boas da vida e a sorrir. e que todos façam o mesmo porque não passamos de habitantes ínfimos neste mundo tão incerto. a solidariedade para com os bombeiros tem sido incrível e era tão bom que toda esta bondade ficasse quando este pesadelo acabar. e que, com o fogo, vá também a maldade em vez da generosidade, a inveja em vez da persistência, a violência em vez da paz.

ai ofélia, não fiques com ciúmes

eu, luísa, aqui me confesso: tenho uma (mini) obsessão por fernando pessoa. não sei porquê, não sei desde quando, não sei de onde apareceu. mas está cá. no ano passado, pedi ao meu irmão para oferecer-me o livro do desassossego no meu aniversário. ele ofereceu-mo mas eu não o quis começar logo a ler porque andava com muitos trabalhos e testes e precisava de lê-lo na altura certa. entretanto, quando comecei a leitura, lia-o em todo o lado e em todas as alturas - até as que não estavam certas. as infinitas horas da aula de genética passaram a parecer menores porque as passava a ler o livro em vez de estar a ouvir a voz arrogante e o tom monótono do professor. quando não estava a ler o livro, estava a ler a biografia do fernando pessoa - até que descobri que o funeral do excelentíssimo foi no mesmo dia que o meu aniversário e quase que o meu funeral era no próprio dia.

a (mini) obsessão chegou a proporções tais que havia vezes em que estava a encher uma garrafa de água ou a fazer a cama ou a estudar e apetecia-me chorar por saber que nunca vou ter a oportunidade de falar com ele. foi aí que decidi que queria um livro de poemas do fernando pessoa. não do álvaro de campos, do alberto caeiro, do ricardo reis, nem do alexander search. queria ler fernando pessoa. apenas ele e sua alma. combinei comigo própria que ia tentar encontrar o livro na feira do livro de lisboa. e assim foi.

desci o parque eduardo vii sempre com atenção em todas as bancadas por que passava enquanto cantava músicas da ariana grande de mão dada com o meu primo. não o encontrei. subi a outra rua do parque e pensava que ainda não era desta que o tinha. quando íamos a meio, vi uma banca cheia de imagens do fernando pessoa. deixei a música que estava a cantar a meio e o meu coração começou a tremer. à minha frente, vi um livro chamado poesia do eu. era exatamente isto que eu queria.

eu podia ir a concertos da ariana grande "everyday, everyday, everyday, everyday"

às vezes, naquelas perguntas de resposta rápida que fazem nas entrevistas, perguntam qual o talento escondido. o meu é ganhar bilhetes para concertos. e, mais uma vez, a Mega Hits fez parceria comigo neste talento. em outubro, fui com a mega hits ver as fifth harmony ao campo pequeno e, no dia 11 de junho, fui ao meo arena ver a ariana grande. a mega hits ofereceu-me um bilhete duplo e eu fiquei com um e o meu primo com outro mas, entretanto, a minha prima e a minha mãe decidiram que também queria ir e, então, compraram um bilhete para elas.

eu sempre adorei a ariana grande, acho-a incrível e aposto que daqui a uns tempos vai acabar por admitir que, na verdade, nasceu em plutão ou arredores porque canta demasiado bem para ter nascido neste mundo - mas pode continuar por cá mesmo que seja um extraterrestre espião porque ainda não conseguimos conectar a internet com outros planetas e quero continuar a ouvi-la durante muito tempo. e, com "muito tempo" quero dizer "para sempre" - espero que no planeta dos pós-terrestres possamos continuar a ouvi-la.

decidimos ir para o meo arena bem cedo para podermos ter um bom lugar no concerto. chegámos por volta das 10h e a fila da plateia em pé (a nossa) estava assim:


entretanto almoçámos (obrigada ao ser humano maravilhoso que teve a excelente ideia de criar o mc veggie!), fomos à fnac dançar ao som do 1º álbum da ariana grande, ofereceram-nos gomas, fizemos penteados estranhos, deitamo-nos no chão a falar sobre música e, por volta das 15h30, começaram a chamar-nos para a fila "oficial" do concerto. aqui, tiraram-nos as mochilas, as tampas das garrafas de água e toda a comida que tínhamos - o que foi ridículo porque o concerto ia durar até às 23h e não tínhamos o que comer. apanhei um escaldão. às 17h30, entramos para o recinto e conseguimos ficar na 2ª fila da plateia em pé - o que era bastante bom se não tivéssemos ficado com os competidores do guiness de "pessoa mais alta no concerto da ariana grande em lisboa" à frente. às 19h, o dj KnowleDJ começou a tocar.


às 20h, foi a vez da Victoria Monet. eu já a conhecia de quando ela era um dos atos de abertura nos concertos das fifth harmony e a música better days é uma das minhas músicas preferidas e, portanto, estava ansiosa para vê-la e gostei! 


às 21h, a rainha ariana grande apareceu no palco do meo arena, qual d. sebastião acabado de surgir no meio do nevoeiro.


houve algumas iniciativas no concerto previamente organizadas pelo público - por exemplo, levantaram-se cartazes que diziam "what we have is untouchable" na música touch it. mas um dos meus momentos preferidos do concerto foi quando as pessoas levantaram balões iluminados de várias cores na música thinking 'bout you. durante esta música, no ecrã grande, estão a passar as silhuetas de pessoas agarradas - homens com homens, mulheres com mulheres e homens com mulheres. e, portanto, os balões de várias cores representavam a comunidade lgbt e o meo arena ficou incrível.


outro dos meus momentos preferidos, foi este:


a certa altura, eu já não aguentava a dor nos pés e descalcei-me. na realidade, este foi um dos meus planos para que as pessoas gigantes que estavam à minha frente se desviassem para que eu conseguisse ver a ariana grande sem ter de estar em bicos de pés ou a arranjar pontos estratégicos. infelizmente, o meu chulé não é suficientemente eficaz e já o despedi.


a meio do concerto, durante a minha música preferida do novo álbum, greedy, começaram a cair notas (infelizmente eram falsas) do teto e eu apanhei duas e um segurança que estava à minha frente ofereceu-me mais duas. se fossem notas de 500€, teria agora 2000€ e já podia comprar um computador como deve ser, ter um programa de edição de vídeo que funcionasse e fazer um vlog do concerto como tinha planeado. mas fico com 4 notas com um autógrafo da ariana grande, o que também não é mau de todo.


quando começou a tocar a dangerous woman fiquei mesmo triste porque sabia que era a última música e apetecia-me ficar ali durante o resto da noite toda e mais uns quantos dias.


estou super feliz por ter tido a oportunidade de ir ao concerto e ainda não acredito que estive mesmo na mesma sala que a ariana grande. fiquei a gostar ainda mais dela - ela é incrível! aliás, até estou a pensar em criar uma petição para mudar o nome dela para ariana gigante, para condizer com o talento.

vou indo

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into the wild (2007)

conheci um rapaz numa viagem de carro. já não me lembro bem para onde íamos mas lembro-me bem da estrada marginada de árvores e, especialmente, dele - o cabelo loiro desengonçado, os olhos claros, a roupa larga. com ar do que realmente era: viajante. de alguma forma, a conversa foi parar a isso mesmo. rapidamente saiu do lugar de pendura e veio sentar-se no banco de trás, ao meu lado, para podermos conversar melhor, sem o som do carro e da rádio a atrapalharem. contou-me que não planeia as viagens - não tem um roteiro decidido, não vai para certos sítios só porque é um sítio muito visitado, não espera pelo dinheiro chegar para ir. "então como te orientas?", perguntei. "vou indo", respondeu. para decidir para onde vai, pesquisa países no google até encontrar algum lugar que, por alguma razão (por muito pequenina que seja), o interesse - "nem que seja só pela raparigas bonitas" e sorriu. "então e o que comes? relva e folhas?". "não", e deu uma gargalhada, "quer dizer, ocasionalmente. mas a gente arranja-se: vamos fazendo amigos, as pessoas oferecem comida, às vezes, uma cama para dormir. vou indo!".

entretanto, o despertador do meu irmão tocou, eu acordei e senti logo saudades do loiro viajante, apesar de saber que era só um personagem da minha mente. eu acredito que este tipo de viagens dão-nos uma sabedoria e estaleca que nenhum doutoramento no curso mais exigente do mundo dá.

à pergunta "está tudo bem?", algumas pessoas costumam responder "vai-se andando" sempre com uma conotação mais negativa lá no fundo. estas viagens ensinam-nos a regra do "vou indo" em situações não tão boas, "vamos indo" até a ultrapassarmos. na verdade, nascemos com ela entranhada. somos postos no mundo sem pedirmos e lá vamos nós, às vezes a 10 km/h, outras vezes a 120 km/h, de vez em quando, em caminhos com algumas lombas ou algum trânsito. mas acabamos sempre por "ir indo". é assim a vida. e não é mau. é bonito.

sim, a minha gata chama-se rita - e aposto que não se importa

- olá.
- olá. - sorrio.
- como te chamas?

e é sempre neste exato instante que o meu dilema irresolúvel regressa à superfície, o que acontece frequentemente - ou mais vezes do que é suposto.
- ana luísa... - respondo, já a prever qual é a fala que vem a seguir, qual raven baxter.
- e preferes ana ou luísa?
- como preferires. - já o digo automaticamente.
este "como preferires" é o passaporte direto para me chamarem "ana luísa" até eu dizer para não o fazerem, ou seja, para sempre porque nem eu sei qual seria a alternativa que preferia. nunca gostei que me chamassem pelos dois nomes juntos. se fosse verónica vanessa talvez fosse mais fácil. mas ana luísa não me facilita a vida. houve momentos em que me chamaram "mona lisa". houve momentos (também conhecidos como sempre) em que não estava atenta em alguma aula e dava um salto da cadeira porque pensava que o professor me estava a chamar quando, na verdade, estava só a dizer "analisa" a algum colega de turma.

quando ainda não passava de 1,50m, não gostava de luísa. agora, com mais 9 centímetros, não gosto de ana. há muitas anas - sempre tive muitas anas na turma, toda a gente tem alguma ana na família, é impossível encontrar alguém que conhecemos procurando apenas "ana" no facebook, no meio de tantas anas que há (a não ser que passemos toda a noite a procurar - e mesmo assim duvido que se encontre!). portanto, das minhas duas décadas vividas, grande parte delas foram passadas a ouvir a palavra ana e, mesmo sendo um nome com duas sílabas, de tão pequeno parece apenas uma. se me chamasse verónica vanessa, podia fartar-me de uma sílaba de cada vez e já não tinha este problema.

quando entrei no ensino - dizem - superior, decidi que me ia apresentar como luísa. claro que algumas vezes falhei e disse que me chamava ana luísa. dali a chamarem-me ana luísa, não durou muito. agora chamam-me ana luísa, ana ou luísa. acho que esta complicação vem de não ter cara de nenhum deles. quando olhamos para um frigorífico, o frigorífico tem mesmo cara de frigorífico e é impensável chamarmos-lhe árvore. acontece o contrário comigo. mas luísa soa-me melhor - é um nome mais musical (sim, foi certamente em mim que os D.A.M.A se inspiraram para fazer aquela canção), mais poético e não tão comum, pelo que não corro tanto o risco de ficar a andar às voltas a olhar para todo o lado no meio da rua porque alguém está a chamar alguma ana aos gritos na rua e, mais uma vez, não era eu.

se calhar, amanhã já estou farta e quero que me chamem "da" ou um dos meus outros dois nomes. ainda bem que tenho 5. mas, por enquanto, chamem-me luísa.