como o meu cérebro decide proceder quando isto acontece: wnvnejwpknjdfoejwnw

não fujo de aranhas, não choro com palhaços, aguento-me firme com o escuro e ando frequentemente em elevadores. mas há duas fobias que eu tenho e que acho que nem com sessões diárias e intensivas de hipnose passariam: uma delas é tripofobia e a outra que acho que não tem nome e, portanto, aqui o crio.

pergunta·e·foge·fobia
(pergunta- + -e- + -foge- + -fobia)
substantivo feminino
medo patológico ou aversão de quando alguém passa, pergunta "tudo bem?" e continua a andar.

sim, estou a falar mesmo a sério. tremo, soo e o meu sistema lacrimal começa a pensar em funcionar severamente quando pressinto uma situação deste género a aproximar-se. isto acontece principalmente porque, quando alguém me pergunta se está tudo bem e continua a andar, não há tempo para a resposta e acabo sempre só eu a responder "sim", sem conseguir retribuir a pergunta e, às vezes, quando a pessoa não está assim tão apressada, parece que eu não quero saber se a pessoa está bem ou não. na verdade, nem a pessoa deve querer saber porque, se quisesse, parava para perguntar em vez de continuar a andar. aliás, eu nunca li o código civil mas aposto que está lá escrito que só podemos responder que sim mesmo que o nosso prédio tenha caído durante a madrugada quando estávamos a sonhar com umas férias em galesnjak com o adam levine e só demos por isso quando acordámos de manhã na rua agarrados ao nosso habitual urso de peluche, rodeados de vizinhos e bombeiros a olharem para nós.

já tentei perguntar "tudo bem?" ao mesmo tempo que a pessoa para ver se a situação se tornava menos estranha, mas o pânico criado pela própria fobia fez com que eu tivesse a (des)habilidade de perguntar e responder ao mesmo tempo - o que ficou ainda mais estranho. também já tentei responder "sim, e tu?" mas, caso a pessoa ainda fosse a tempo de ouvir, ou não ia responder por já estar demasiado longe entretanto ou respondia e, finalmente, alguém perceberia a tolice que é toda esta circunstância, por acabar a responder para o vento ouvir.

portanto, se não for muita prepotência junta, gostaria de fazer um pedido mundial: quando for para perguntarmos a alguém se está bem, por favor, paremos para ouvir o que a pessoa tem para dizer. claro que fica bonito perguntarmos a alguém se está bem. mas fica ainda mais bonito se o fizermos porque queremos mesmo saber e, portanto, paramos para ouvir. caso estejamos com muita pressa ou não quisermos mesmo saber, não há mal nenhum em dizermos só "olá" ou sorrir. e assim estaremos a salvar o mundo de mais uma fobia.

5 comentários:

  1. Por um lado responder "tudo bem?" ao mesmo tempo até pode ser bom, se for uma pessoa com a qual não tenhamos grande vontade de falar haha. Mas percebo-te perfeitamente!

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  2. Olha, descobri uma nova fobia minha também pahah

    r: Sabes sim Amy, é isso mesmo, toda a gente diz o mesmo mas eles acham-se e agem como se fosse muito adultos aaiii
    É exatamente assim que pretendo pensar!
    A sério?? E não disse nada de especial :)

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  3. Olá. Tudo bem? eheheh
    Já imaginaste os engarrafamentos nos passeios, se toda a gente que pergunta "tudo bem?" parasse para ouvir a resposta?
    Claro que seria mais natural cumprimentar com um simples "bom dia", ou "boa tarde", até porque, como dizes, ninguém que pergunta "tudo bem?" está interessado em saber se está, realmente, tudo bem ou tudo mal. Mas adquirir uma fobia por causa disso, é "doentio" eheheh

    R: a razão do meu ceticismo em relação à tua "panka" com a música, prende-se com o facto de ser muito difícil viver da música. Há quem consiga e nem sempre são os melhores. Acho mesmo que quanto mais "pimba", maiores são as probabilidades de sucesso. eheheh

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  4. Ó MEU DEUS, PENSAVA QUE SÓ EU PADECIA DESTE PROBLEMA, DESTA FOBIA???
    É que quando as pessoas me perguntam se está tudo bem e continuam a andar, eu tento retribuir a pergunta, responder rapidamente: "sim e contigo/consigo?", "tudo bem e contigo?"... Sei lá, já tentei tudo mas o tempo é escasso e a ansiedade aumenta e... Socorro!

    Estranha Forma de Ser Jornalista
    http://estranhaformadeserjornalista.blogspot.pt/

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  5. Calçada de Carriche

    Luísa sobe,
    sobe a calçada,
    sobe e não pode
    que vai cansada.
    Sobe, Luísa,
    Luísa, sobe,
    sobe que sobe
    sobe a calçada.
    Saiu de casa
    de madrugada;
    regressa a casa
    é já noite fechada.
    Na mão grosseira,
    de pele queimada,
    leva a lancheira
    desengonçada.
    Anda, Luísa,
    Luísa, sobe,
    sobe que sobe,
    sobe a calçada.

    Luísa é nova,
    desenxovalhada,
    tem perna gorda,
    bem torneada.
    Ferve-lhe o sangue
    de afogueada;
    saltam-lhe os peitos
    na caminhada.
    Anda, Luísa.
    Luísa, sobe,
    sobe que sobe,
    sobe a calçada.

    Passam magalas,
    rapaziada,
    palpam-lhe as coxas
    não dá por nada.
    Anda, Luísa,
    Luísa, sobe,
    sobe que sobe,
    sobe a calçada.

    Chegou a casa
    não disse nada.
    Pegou na filha,
    deu-lhe a mamada;
    bebeu a sopa
    numa golada;
    lavou a loiça,
    varreu a escada;
    deu jeito à casa
    desarranjada;
    coseu a roupa
    já remendada;
    despiu-se à pressa,
    desinteressada;
    caiu na cama
    de uma assentada;
    chegou o homem,
    viu-a deitada;
    serviu-se dela,
    não deu por nada.
    Anda, Luísa.
    Luísa, sobe,
    sobe que sobe,
    sobe a calçada.
    Na manhã débil,
    sem alvorada,
    salta da cama,
    desembestada;
    puxa da filha,
    dá-lhe a mamada;
    veste-se à pressa,
    desengonçada;
    anda, ciranda,
    desaustinada;
    range o soalho
    a cada passada,
    salta para a rua,
    corre açodada,
    galga o passeio,
    desce o passeio,
    desce a calçada,
    chega à oficina
    à hora marcada,
    puxa que puxa,
    larga que larga,
    puxa que puxa,
    larga que larga,
    puxa que puxa,
    larga que larga,
    puxa que puxa,
    larga que larga;
    toca a sineta
    na hora aprazada,
    corre à cantina,
    volta à toada,
    puxa que puxa,
    larga que larga,
    puxa que puxa,
    larga que larga,
    puxa que puxa,
    larga que larga.
    Regressa a casa
    é já noite fechada.
    Luísa arqueja
    pela calçada.
    Anda, Luísa,
    Luísa, sobe,
    sobe que sobe,
    sobe a calçada,
    sobe que sobe,
    sobe a calçada,
    sobe que sobe,
    sobe a calçada.
    Anda, Luísa,
    Luísa, sobe,
    sobe que sobe,
    sobe a calçada.

    António Gedeão

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