ouvi dizer que o pai natal este ano andou no fitness e está mais magrinho

ontem de manhã, fui ao supermercado comprar pão. quando estava a tirar o saquinho para colocar o pão, reparei na senhora sem sobrancelhas e com um gorro à minha frente. "deve ter cancro", pensei. o meu respeito pelas pessoas que têm de carregar com o cancro aos ombros é de tal tamanho que já me fez cortar o cabelo (que quase chegava à anca) pelas orelhas para o doar.

mas voltando à senhora do supermercado: depois de tirar o saco, fui buscar o pão. tirei outro saco e fui buscar palmiers para comermos cá em casa ao lanche. quando estava a começar a tirar, senti alguém a tocar-me nas costas. era a senhora a sorrir para mim. pensei que ela também queria tirar alguma coisa e, então, cheguei-me para o lado e ela disse "só agora é que reparei que és tu". isto acontece-me muitas vezes: pessoas que me acabam de conhecer e dizem que já me conhecem de algum lado, pessoas que vêem ter comigo a pensar que sou outra pessoa. fiquei a olhar para ela e a pensar "deve-me estar a confundir com alguém" mas não disse nada e aproximei-me para a cumprimentar. "estás boa?". ainda não sabia quem ela era mas respondi que sim. "como está a tua mãe?". foi aí que percebi quem era. era a cabeleireira a que costumava ir e que, por acaso, cortou-me o cabelo quando o fui doar à liga portuguesa contra o cancro . a vida tem destas voltas estranhas.

voltámos a encontrar-nos na caixa para pagar. saí primeiro que ela e dei-lhe um beijinho. "feliz natal", ela disse-me. "feliz natal", respondi. e fui embora a pensar. para ser sincera, não sei bem como funciona o cancro: não sei se alguma vez temos a certeza se estamos completamente bem ou não, não sei se chegamos a ter alguma certeza no que quer que seja. a vida é demasiado imprevisível para ter certezas, no geral. mas quando alguma doença aparece, creio que essa imprevisibilidade aumenta de tamanho e torna-se maior que o mundo. deixa-me triste pensar neste tipo de coisas. não sei até que ponto é que a felicidade de ter comida na mesa, alguém com quem a partilhar e o calor humano são suficientes para conseguirem tapar a incerteza de uma doença tão gigante, especialmente nesta altura do ano. talvez a solução passe por viver um dia de cada vez, sem preocupações do que virá amanhã. e hoje é dia de natal e, portanto, temos todas as desculpas do mundo para comermos sonhos e bolo rei de chocolate e todas as coisas boas sem nos termos de preocupar durante o ano inteiro. e portantooooooo:

(só porque ainda não vi nenhum anúncio sobre o sozinho em casa este ano)

7 comentários:

  1. A vida nem sempre é justa mas o que importa é que ela consiga superar este momento menos bom. Que o Pai Natal lhe traga muita força.

    Espero que tenhas um natal muito feliz ♡

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  2. A vida tem mesmo destas voltas estranhas. Essa doença assusta-me, assusta-me realmente. É triste vermos a luta constante das pessoas, mas pronto. A esperança é a última a morrer.
    Doar o teu cabelo foi um gesto incrível :)
    Um Feliz Natal querida :)

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  3. Imprevisibilidade é mesmo a melhor palavra para definir tudo isso :/

    Espero que estejas a ter um Natal maravilhoso 🎄

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  4. As vezes somos mesmo ingratos com a vida sem percebermos a sorte que temos...

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  5. Não sei explicar muito bem mas esta publicação é extremamente triste. A vida é mesmo estranha.

    R: Então é suposto sentirmos sempre um vazio esquisito?

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  6. Se há algo incerto essa coisa é o cancro. Aprendi isto da melhor e pior maneira!
    Podem dizer que estás livre dele e passado um tempo ele está lá outra vez, como podem dizer que acham que estás limpa dele mas não têm a certeza e no final não o voltas a ter.
    Infelizmente, na maioria dos casos ele nunca se vai embora completamente. É uma merda.

    Mas fora com as coisas más, espero que o teu natal tenha sido super especial! Boas entradas*

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  7. É uma questão tão complexa que aperta qualquer coração só de imaginar. Mas é como dizes, viver um dia de cada vez sem deixar que o medo vença!

    Beijinhos e boas festas!

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