espera por mim

30 de janeiro de 2018, 1h31

quando criei este blog, prometi que ia falar sobre coisas felizes. também prometi que ia ser sempre eu mesma, portanto, só poderia falar sobre coisas felizes quando estivesse feliz. tenho vindo a tentar colocar posts o maior número de vezes possível - e tenho conseguido. mas, ultimamente, desapareci. e desapareci porque, embora às vezes me esqueça, sou humana e não posso estar sempre feliz.

a verdade é que cada vez que alguém me diz que tenho de postar mais vídeos de músicas no youtube ou que tenho de começar a levar a música a sério, é como se levasse uma facada com uma espada grossa que me atravessasse de um lado ao outro do peito. mais do que querer, eu preciso muito de fazer música - muito. é o que mais quero na vida. mas sinto-me impedida.

quando criei o blog, também estava nos meus planos não me fazer de coitadinha. e não é o que estou a fazer. é a verdade. a minha casa é pequena. vivo com os meus pais e com o meu irmão e durmo na sala porque não há mais espaço para eu dormir. durmo na sala mesmo com a televisão dos meus vizinhos aos berros de madrugada, estudo na sala mesmo com os meus pais a quererem ver televisão, vivo na sala. também há sempre alguém em casa e, portanto, não me sinto à vontade o suficiente para estar a fazer música, que é uma coisa tão pessoal, tão minha. por isso, simplesmente não faço. talvez seja daqui que nascem as minhas inseguranças: nunca tive espaço suficiente para saber até onde consigo chegar e o que consigo fazer, musicalmente falando. nunca tive sequer um espaço pessoal para me conhecer e crescer comigo própria, para explorar quem sou.

a única coisa que tenho a certeza em mim é que quero fazer música. eu passo os dias a pensar em fazer música, tenho um bloco de notas cheio de letras minhas, tenho mais de 500 vídeos no telemóvel e para aí 90% deles são músicas minhas cantadas e tocadas baixinho para ninguém ouvir no resto da casa. não há outra coisa que eu queira mais fazer que não seja música.

mas não posso. e não são desculpas porque, se pudesse, deixava de comer e de dormir para estar agarrada à guitarra, ao teclado, a um papel amachucado e a uma caneta com a tinta a acabar. as ideias surgem-me no meio da rua, no banho, num restaurante cheio de gente mas, na hora de fazer música a sério, preciso de um lugar em que me sinta confortável e segura para poder desabar e falar de tudo o que quero e preciso falar. esse lugar é a minha casa. onde, por outro lado, não posso fazer música porque está sempre com alguém a ir e a vir, a entrar e a sair, e eu não tenho um espaço para mim, onde possa segredar comigo própria.

não vou estar a contar aqui ao certo o que se passa, como é óbvio. mas é algo tão estúpido, tão mesquinho, tão sem sentido. e eu já fiz o que podia e sinto-me impotente por nada ter mudado. não quero, muito menos preciso, ouvir todos os dias que não sei fazer nada e que não presto e que não vou conseguir. até ter o meu espaço, só posso ficar à espera. esforcei-me à séria durante todo o semestre da faculdade para poder ter férias durante janeiro e fevereiro inteiros, sem ter de ir a exames, para poder fazer música à vontade. consegui. mas tudo o que agora faço é passar o dia deitada na cama, na sala, a olhar para o teto porque não posso fazer "barulho".

na verdade, desde o início deste ano que tenho andado assim. o ano em que prometi para mim mesma que tudo ia mudar, o ano em que sentia que ia mesmo mudar. tenho andado desde o primeiro dia como se me estivessem a sufocar o corpo todo. está tudo ao contrário do que faz sentido estar. custa-me. muito. sinto que estou a atrasar e, sei lá, a ser expulsa da minha maior felicidade por causa de algo que não controlo. neste momento são 1h54. acordei tão cedo na manhã passada que estão quase a fazer 24h que estou acordada. mas, mais uma vez, não consigo dormir a pensar nisto. apetece-me berrar. mas não posso. já estou habituada a isso. quero tanto fazer música, tenho tanto para dizer quanto medo de, quando o puder dizer, já seja tarde demais.

9 comentários:

  1. Espero que as coisas melhorem por aí querida, não gosto nada de saber que estás tristinha. A vida não é sempre fácil connosco, mas verás que ainda vais fazer muita muita música e terás o sucesso merecido. Força, beijinho grande <3

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  2. É sufocante quando nos sentimos presos de alguma forma. A vontade está lá, mas parece que falta sempre algo; parece que as condições nunca são suficientes.
    Não desistas do teu sonho por nada, nem deixas que fatores externos limitem o teu processo criativo. Vais ver que todas essas adversidades vão acabar por passar.

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  3. Por vezes é bom berrar, chegamos a um ponto em que não há mais nada a fazer. Rebentamos, ficamos saturadas do que se passa à nossa volta. É algo difícil de ultrapassar e precisas de ser forte e perseverante. Se realmente é isso que gostas não desistas, por muito difícil que seja, por muitos obstáculos que agora te apareçam, desistas. É tão bonito e mágico quando descobrimos o que realmente queremos na nossa vida, é algo que muitas pessoas não conseguem descobrir! Muita força! Se puder ajudar em alguma coisa avisa :) Estou aqui a apoiar-te, força!

    Beijinho,
    Inês do umblogindisponivel.blogspot.pt

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  4. O que aqui escreves não é fazeres-te de coitada nem arranjares desculpas, é simplesmente a realidade do que vives e sobre o que tens todo o direito de desabafar.
    Honestamente é uma situação muito complicada, e nem sei bem o que te dizer... Porque consigo perceber a tua frustração. O facto de não teres um espaço só teu é um entrave e acaba por prejudicar a tua paixão que é a música.
    Espero que tudo melhore e que consigas superar esta situação. Beijinhos

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  5. Espero que tudo melhore! Força!
    Beijinho, Ana Rita*
    BLOG: https://hannamargherita.blogspot.com/ || INSTAGRAM: @rititipi || FACEBOOK: https://www.facebook.com/margheritablog/

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  6. Linda? Primeiro de tudo não tens de te sentir mal, como dizes e bem nem todos os dias são felizes e não há problema nenhum em desabafar isso aqui! Pelo contrário, até faz bem. Também estou na mesma situação que tu, não há espaço! Mas vive-se, tem de ser... Força linda, vais ver que um dia serás compensada e não deixes que os teus sonhos desapareçam. Beijinho grande

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  7. Como eu te compreendo (ou penso que compreendo).
    É horrível não termos o nosso espaço. Talvez por isso tenha sido um bocado dado à vadiagem até casar e ter o meu espaço e não me ter custado assentar e deixar a "má vida" quando casei.
    Na casa da minha irmã não dormia propriamente na sala, mas a casa era tão turbulenta, com dois miúdos a berrar, as vizinhas sempre lá metidas, que eu chegava do trabalho, jantava e punha-me nas putas eheheh.
    Tens que casar. Casar é a solução para todos os teus problemas eheheh. Agora não faças como o outro que eram 9 irmãos e dormiam todos na mesma cama. Um dia a irmã mais velha casou e passaram a dormir 10. eheheh

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  8. Parte-me o coração saber o quanto a música é importante para ti e ver que não é tão fácil como poderia ser. E logo devido a algo tão (aparentemente) simples de resolver como não poderes fazê-lo na tua casa.
    Também queria ajudar, mas receio que não consiga. Lisboa não é muito abundante em refúgios ao ar livre, suponho? Seria uma hipótese...
    Os obstáculos fazem parte, Luísa. Tens de ser muito forte para ultrapassar todos os que vão barrar o caminho.
    Continua a escrever, a ser linda e pura. A vida vai sorrir-te, tenho a certeza!

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  9. Espero que consigas ultrapassar todos esses obstáculos e consigas agarrar te à música se é isso mesmo que queres!
    E o blog é o teu espaço, fala daquilo que bem te apetecer, não estás a fazer-te de coitadinha, estás simplesmente a dizer o que te vai na alma!

    r: vivo no Estoril (Lisboa)! x

    Meet me for Breakfast

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